A falta de armazéns em Mato Grosso e as consequências deste problema para os produtores foi debatida, esta semana, em Sinop, durante o quinto Simpósio Mato-grossense de Pós-colheita de Grãos. Na última safra, a produção no Estado foi de 45,8 milhões de toneladas e a capacidade de armazenagem de 29 milhões de toneladas. Estima-se que a capacidade ideal para o estado seria em torno de 54 milhões de toneladas.
Nas projeções para os próximos 10 anos a situação torna-se ainda mais alarmante, uma vez que a estimativa é de que a produção do estado gire em torno de 67 milhões de toneladas. Com isso, é necessária a construção de uma estrutura de armazenagem que comporte mais 50 milhões de toneladas de grãos.
“A logística não acompanha e não tem como acompanhar. Os investimentos tinham de estar sendo feitos há muito tempo. E hoje há a intenção destes investimentos, mas eles não estão se concretizando ainda. Não só em logística como em armazenagem. Temos um grande déficit em armazenagem. Não é do dia para a noite que você estrutura isto. Então tem que turbinar isto, para ter mais armazéns e também as melhorias logísticas”, alerta o gerente de planejamento da Aprosoja, Cid Sanches.
Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Amelio Dall Agnol a demanda por soja no mundo irá aumentar nos próximos anos. Somente na próxima década a estimativa é de que seja necessário um acréscimo na produção mundial da ordem de 70 milhões de toneladas. Dentre os grandes produtores mundiais, o Brasil é o país com melhores condições de atender a esta demanda, sobretudo com o plantio em áreas de pastagens degradadas. Para isso, alerta, será necessário investimento em infraestrutura.
“Imagino que o governo já tomou consciência e está tomando decisões para que dentro de cinco ou dez anos tenhamos estes problemas e gargalos resolvidos. Porque a perspectiva de crescimento da área e da produção é inquestionável. Nós vamos ter crescimento porque a demanda continua crescendo em nível global. Os grandes produtores como Estados Unidos e Argentina não têm muito como crescer e o Brasil é o país que tem as condições”, afirma Dall Agnol.
Uma das medidas adotadas pelo governo para melhorar a capacidade de armazenagem foi a inclusão de uma verba de R$ 25 bilhões para a construção de silos e armazéns no Plano Safra 2013/2014. Entretanto, somente a disponibilidade de recursos não é o bastante para acabar com o déficit atual.
“Só o volume de recursos não é suficiente. A indústria precisa investir para poder produzir este aumento de capacidade. O próprio tomador tem muita dificuldade de pagar este investimento, porque a atividade de armazenagem não é muito rentável. Tem de ter uma industrialização associada para ela ser rentável. Demos um passo, temos uma sinalização boa de que neste momento temos recurso colocado para o aumento da capacidade. Mas temos de ter outras estratégias governamentais para estimular este aumento da capacidade de armazenamento”, afirma o presidente da Abrapós, Irineu Lorini.
O interesse em construir armazéns também parte dos produtores. Entretanto, nem sempre o investimento individual é viável.
“Por mais que o produtor de Mato Grosso tenha áreas maiores do que em outros estados, ás vezes mesmo uma grande área de plantio não viabiliza a instalação de um armazém. Então a Aprosoja incentiva também a formação de cooperativas, associações, condomínios de produtores em que eles se juntam e constroem grandes armazéns, o que é muito necessário para o estado”, explica Cid Sanches.