Amanda Divina/Hiper Noticias
Um levantamento da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) apontou que 150 toneladas de grãos, como milho e soja, além de algodão, foram recuperadas entre 2021 e este ano, depois de roubos de cargas cometidos nas rodovias de Mato Grosso, modalidade de crime que vem ocorrendo com determinada constância no Estado.
"Nós vivemos em um estado que é do agro, né? Um dos maiores produtores de grãos e, consequentemente, tem uma grande demanda, porque a criminalidade também cresce o olho e, assim, vem ocorrendo diversos crimes nesse segmento, nesse setor, que é o roubo e a questão de cargas", aponta o delegado titular Vitor Hugo Bruzulato Teixeira, que conduz o GCCO.
O delegado orienta, antes de mais nada, que motoristas de caminhões e carretas não reajam durante os sequestros visando o roubo de cargas, para que não sejam assassinados.
De acordo com Vitor Hugo, os criminosos costumam agir em locais com pouco monitoramento policial e eletrônico em Mato Grosso. A autoridade policial pontuou ainda que quando os condutores dos caminhões são sequestados pelos bandidos, costumam ser abandonados em regiões de mata, depois que os comparsas conseguem entregar a carga para o receptador.
"Quando o motorista é levado pra algum cativeiro, eles ficam ali num período até o a organização criminosa conseguir encaminhar a carga para o receptador. Então, ele fica ali por períodos curtos. É lógico, pra quem tá submetido àquela situação, um minuto é uma eternidade, mas eles ficam ali em períodos curtos, até a organização criminosa dar destinação ao receptador da carga roubada, e logo é liberado", começa o delegado.
"Então, na grande maioria das situações, a vítima não vai ser nem violentada, só vai ficar ali pra que não faça contato com a empresa, com o proprietário do caminhão e acione a polícia. E, consequentemente, a gente orienta que como ele vai ser liberado, para não reagir em hipótese alguma. Porque são meliantes que estão armados", recomenda.
O delegado ainda alerta aos motoristas que é preciso buscar paradas com segurança nas rodovias de Mato Grosso, sobretudo em locais onde há sistema de monitoramento por câmeras e maior movimento, para evitar a ação dos grupos organizados, que costumam estar em locais menos estruturados aguardando as possíveis vítimas.
Divulgação
"É muito comum os caminhoneiros de outros estados passarem aqui pelo estado de Mato Grosso, e o idel é procurar principalmente abastecer em lugares que tenham uma segurança maior. Em postos que têm um sistema de monitoramento, que têm um fluxo maior de pessoas. Ter um planejamento da viagem, um planejamento pra que possa abastecer nesses lugares seguros, dormir num lugar seguro. Dependendo da região, não transitar no período noturno, porque no período noturno existe um fluxo menor e os meliantes se aproveitam dessa situação para a prática do crime. Então, buscar um planejamento e viajar durante o dia, parando em lugares seguros. Principalmente onde tem o monitoramento de câmeras de segurança", reforçou.
O delegado titular ainda pontua que o ideal é que os caminhoneiros mantenham contato e utilizem postos de combustíveis onde tem grande movimentação de pessoas.
"Por exemplo, em situações de postos de combustível, um lugar que não tenha monitoramento eletrônico, um lugar que fica longe de uma base da polícia rodoviária, da Polícia Militar, da Polícia Civil. Então, eles procuram agir em estradas afastadas, que não têm grande movimentação de veículos, procuram essas regiões. Que tem uma facilidade, principalmente sem o monitoramento ali de câmeras de segurança para que eles não possam ser identificados", acrescenta.
Conforme investigações da Polícia Civil, cerca de 90% das cargas agrícolas que são roubados pelos criminosos são encaminhas para portos de Paranaguá (PR), Itajaí (SC) e Pará, para que sejam distribuídas.
TRÁFICO DE ENTORPECENTES
Consta ainda no levantamento da polícia que, durante o período de safra, os criminosos costumam aliciar os caminhoneiros para que eles coloquem grandes quantidades de entorpecentes no meio das cargas na tentativa de "esquentar" o produto para que passe despercebido nos postos policiais.
"A gente verificou que o tráfico, principalmente de cloridrato de cocaína, que é o tráfego mais pesado, mais caro, os criminosos têm utilizado o modal aqui do Estado, principalmente no transporte de grãos, pra escoar também a cocaína da Bolívia. Então, eles vêm alinciando o motorista em todas as situações, pagando para esse motorista uma grande quantia em dinheiro, pra efetuar transporte. Porque é uma forma que eles conseguem dificultar. Como que encontra a droga no meio de umas quarenta, cinquenta toneladas de milho, de soja? Fica difícil, né? Sem o trabalho de inteligência e, por exemplo, aí entra a Polícia Rodoviária Federal, que vem desempenhando um excelente trabalho aqui no Estado", comenta
"Então, nós temos esse trabalho, feito de forma integrada e, acima de tudo, com a utilização da inteligência policial, mas na grande maioria, existe o aliciamento dentro desse modal do transporte aqui no Estado para o tráfico de drogas. É uma modalidade que as organizações criminosas agindo com uma certa frequência. Mas é igual eu falei, nós, com esse trabalho integrado e com a inteligência, a gente vem conseguindo prender mais pessoas", afirmou.
Desde 2021, quando a GCCO também foi encarrega da investigação do roubo de cargas, foram recuperadas 150 toneladas de produtos, além de 20 veículos apreendidos, bem como o cumprimento de 61 ordens judiciais.
"Nós conseguimos, ali no final do ano passado, mais um delegado. Tivemos aí também um apoio da da Polícia Civil, da diretoria com investigadores, precisamos de mais. Mas, estamos conseguindo desenvolver algumas ações, justamente na parte repressiva, que é a natureza da Polícia Civil que, com as investigações, possa identificar e prender esses integrantes desses grupos que vêm agindo aqui no Estado", finalizou.