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Notícias Domingo, 24 de Novembro de 2013, 00:00 - A | A

24 de Novembro de 2013, 00h:00 - A | A

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POR DIREITOS IGUAIS:Parada da Diversidade pede fim da intolerância religiosa e divide espaço com evangélicos



Cerca de 3 mil pessoas participaram da 11ª Parada da Diversidade Sexual de Mato Grosso realizada na tarde deste sábado (23), em Cuiabá, debaixo de chuva, com intuito de reivindicar direitos civis iguais aos heterossexuais, como garante o texto da Constituição Federal de 1988, o que na prática não acontece. Nesta edição, o evento trouxe como tema “Estado laico: Sua religião não é a nossa lei”, uma posição contra o preconceito religioso aos homossexuais demonstrado através de boa parte dos representantes políticos e líderes religiosos locais e nacionais.

E, curiosamente, gays, lésbicas, travestis, transexuais e simpatizantes que participavam do evento dividiram o mesmo espaço com um grupo religioso da Assembleia de Deus, na Praça Ipiranga, ponto de concentração da Parada antes da caminhada em direção à Praça Santos Dumont, na Avenida Getúlio Vargas. O motivo é que um grupo de 50 evangélicos realizava um culto no coreto situado bem no meio na Praça Ipiranga.

Logo no início, quando o público LGBT começava a se concentrar na praça, Clóvis Arantes, representante em Mato Grosso, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT) subiu no trio elétrico, utilizou o microfone e disse, em alto e bom tom, que a Parada da Diversidade estava marcada há 3 meses para ocorrer na Praça Ipiranga no dia 23 de novembro às 14h e portanto, o evento iria acontecer com ou sem a presença dos evangélicos. E aconteceu, sem qualquer incidente entre ambos os grupos. A Polícia Militar e dezenas de agentes de trânsito (amarelinhos) trabalharam para garantir a segurança dos participantes e também dos motoristas.

O inusitado ficou por conta de um pastor que participava do culto. Ele passou a percorrer toda a praça abordando grupos de gays e lésbicas com a ideia de “pregar a palavra e tentar converter os homossexuais”. Sem sucesso. Entre às 14h30 e 16h45, tempo em que a Praça Ipiranga foi ponto de concentração da Parada Gay, o pastor abordou dezenas de pessoas, mas não conseguiu convencer nenhuma a sair de perto do trio elétrico onde eram tocadas músicas animadas e ocorriam os discursos de ativistas da causa LGBT, para ir participar do culto no coreto, a menos 50 metros.

Por parte da Parada Gay, o que chamou atenção, inclusive dos evangélicos, foi uma intervenção teatral protagonizada por 3 ativistas da causa gay que encenavam a intolerância religiosa que ainda predomina no país. Um dos personagens representava o poder público e para isso carregava uma bíblia e segurava uma coleira amarrada ao pescoço do 2º personagem que por sua vez representava um cão feroz que agredia a 3ª personagem. Esta estava pintada com tinta vermelha pelo corpo simbolizando a comunidade LGBT. Acuada e sem saída, era agredida pelo cão feroz incitado pelo 1º ator (poder público) a agredir cada vez mais. A intervenção percorreu vários pontos da praça e chocava à primeira vista. Principalmente, pelas investidas de forma inesperada e brutal do “agressor” contra a “vítima” que tinha as mãos amarradas e sem tem como fugir, caía no chão e era agredida.

Para fazer jus ao tema que de nenhuma religião no Brasil é lei que precisa ser seguida por ninguém e muito menos imposta contra vontade, principalmente aos homossexuais, o cartaz de divulgação do evento, foi a estátua da Liberdade beijando na boca o símbolo da Justiça, a deusa Têmis, com a frase: “Estado laico: sua religião não é nossa lei”.

Na Parada Gay, também houve vaias e muitas críticas ao pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC) que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e luta contra os direitos dos homossexuais no Brasil. Sua atuação contra o segmento LGBT mais recente, ocorreu na surdina, durante sessão esvaziada na última quarta-feira (20) feriado pelo dia da Consciência Negra, quando ele e os demais membros da Comissão votaram, em menos de 30 minutos, pela suspensão da resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de maio, que proíbe que cartórios se recusem a registrar a união entre 2 pessoas do mesmo sexo.

O recado ficou claro nas falas dos vários representantes de entidades que lutam por políticas públicas para a população LGBT. Eles pediram a aprovação do Projeto de Lei da Câmara número 122 de 2006, que visa criminalizar a discriminação motivada por orientação sexual ou identidade de gênero, cometida contra homossexuais, bissexuais ou heterossexuais por conta de sua opção sexual. Se aprovado, irá alterar a Lei de Racismo para incluir tais discriminações no conceito legal de racismo – que abrange, atualmente, a discriminação por cor de pele, etnia, origem nacional ou religião.

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Nesse ano, a 11ª Parada da Diversidade Sexual trouxe um padrinho no lugar da madrinha, figura feminina que historicamente esteve presente nas outras 10 edições do evento. O escolhido como padrinho foi o vereador Allan Kardec (PT) em virtude de seu trabalho que vem sendo realizado na Câmara de Cuiabá em prol da comunidade LGBT. Ele puxa as discussões e cobra do poder público municipal a implantação e execução de políticas públicas que garantam direitos aos homossexuais, à educação, saúde, segurança, lazer, mercado de trabalho e outras questões. Allan deixa claro que é heterossexual, mas não aceita preconceito e violência contra gays  e lésbicas, pois são cidadãos que pagam impostos, também representam a sociedade cuiabana e precisam de respeito e de ser amparados por políticas públicas que funcionem efetivamente garantindo-lhes direitos civis como ocorre com os heterossexuais. 

As cobranças têm surtido resultados, pois o prefeito Mauro Mendes (PSB) comprou a ideia e colocou o secretário municipal de Assistência Social de Desenvolvimento Humano, José Rodrigues Rocha Júnior como responsável para criar num futuro bem próximo o Conselho Municipal de Políticas para o público LGBT. As conversas estão adiantadas e o secretário que também participou da Parada da Diversidade e fez discurso no palco montado na Praça Santos Dumont, ressaltou que o projeto de lei para instituir o Conselho já está sendo elaborado. O vereador Arilson da Silva (PT) também participou do evento e soma forças nas discussões por direitos ao público LBGT de Cuiabá.

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