Cristiane Guerreiro/Gazeta Digital
Ao mesmo tempo em que muitas famílias pensam nas confraternizações de fim de ano, com mesas fartas para a ceia e vestimentas novas com cores da sorte para o novo ano que se inicia, um cenário bem diferente retrata a vida de milhares de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade econômica e social.
Em Mato Grosso, 93.340 pessoas estão abaixo da linha de extrema pobreza, ou seja, vivendo com US$ 2,15 PPC (Poder de Paridade de Compra) por dia, ou R$ 209 por mês, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2024, divulgados este mês, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só na região metropolitana de Cuiabá, por exemplo, subiu de 1,6% para 3,2% -de 13.888 para 27.776 -o número de pessoas nessa condição. Essas famílias vivem um final de ano penoso, como foram todos os meses, e a única preocupação é se terão o que comer.
Venezuela Santina Coba, que mora em uma área de ocupação na região do Contorno Leste, em Cuiabá, afirma que a fome dói. "Têm dias que eu choro muito, fico muito mal quando meus netos pedem e eu não tenho para dar, principalmente quando é a minha netinha Wilkelys Maria, de 4 anos. Ela gosta muito de leite e quando pede e eu digo que não tenho para dar, ela não entende, grita e chora", diz.
Ela mostra que a geladeira está praticamente vazia e o que tem é proveniente de doação. "É impossível a gente conseguir realizar três refeições ao dia. Hoje mesmo, só vai ser arroz e mortadela, e para nós é ótimo porque tem dias que não tem nada para comer", relata.
Segundo Santina, que cuida dos 5 netos, enquanto a mãe trabalha, 15 pessoas da mesma família vieram para o Brasil para fugir da miséria na Venezuela. "A fome nos acompanha, em qualquer lugar que a gente vá. Aqui no Brasil, também não está sendo fácil, porque o dinheiro que a mãe das crianças recebe fazendo faxina não é suficiente para alimentá-las e eu não tenho nenhuma renda, vivo de ajuda".
Afirma que quando a família chegou em Cuiabá, ficou em um espaço de acolhimento para imigrantes, e depois de um tempo foi para a área de ocupação, após ganhar algumas madeiras. Conta que os netos moram com os pais em um barraco de madeira, dividido em duas peças. "Na hora de dormir, levo 3 dos 5 netos para a minha casa, porque não cabe. Tem apenas uma cama de casal para todos usarem", finaliza.
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