Por Marco Antônio Martins, g1 Rio
A investigação da Polícia Federal contra o jogador Buno Henrique, do Flamengo, diz que em quatro momentos do jogo contra o Santos, pelo Brasileirão de 2023, o atacante poderia ter tomado um cartão amarelo.
A Polícia Federal indiciou o atacante por supostamente ter forçado o cartão e, com isso, beneficiado apostadores. Além dele, outras nove pessoas foram indiciadas. Três delas são familiares de Bruno Henrique, que não quis comentar o caso.
Os investigadores incluíram no inquérito conversas de WhatsApp de apostadores angustiados com a demora na punição (veja aqui), que só aconteceu nos acréscimos do segundo tempo do jogo, após os 90 minutos regulamentares.
Veja abaixo, os lances em que Bruno Henrique poderia ter recebido o cartão segundo a PF:
5 minutos do 2º tempo
Gabigol e Bruno Henrique discutem com o juiz Rafael Klein após a marcação de uma falta contra o Flamengo. Ambos reclamam, mas apenas Gabigol é advertido com o cartão amarelo:
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Os atacantes Gabigol e Bruno Henrique reclamam com o juiz Rafael Klein; apenas Gabigol recebe o amarelo — Foto: Reprodução
18 minutos do 2º tempo
Bruno Henrique comete uma falta no campo de ataque do Flamengo:
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Bruno Henrique faz falta em jogador do Santos no segundo tempo do jogo em novembro de 2023 — Foto: Reprodução
22 minutos do 2º tempo
Nova reclamação com o juiz após a marcação de uma falta:
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Bruno Henrique reclama após nova falta no jogo contra o Santos — Foto: Reprodução
35 minutos do 2º tempo
Bruno Henrique derruba um jogador do Santos no campo de ataque do Flamengo. Após a marcação da falta, BH – como também é chamado – chuta a bola para longe:
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Bruno Henrique faz nova falta em jogo contra o Santos, em 2023 — Foto: Reprodução
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No mesmo lance, Bruno Henrique chuta a bola para longe após a marcação da falta — Foto: Reprodução
'Juiz desgraçado', reclama apostador com demora de cartão
Os investigadores tiveram acesso a mensagens (veja abaixo) trocadas entre os apostadores. À medida que o tempo passava, dois dos indiciados pela PF – o irmão do atacante, Wander Nunes Pinto Júnior, e seu amigo Claudinei Vítor Mosquete Bassan – conversaram sobre a demora da aplicação do cartão e reclamaram do juiz Rafael Klein.
"Que juiz desgraçado", diz Claudinei.
"Já era pra ter dado e tá nessa p... aí", diz Wander.
"Deve tomar agora", responde Claudinei.
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Investigados por apostas envolvendo Bruno Henrique reclamam de demora em cartão — Foto: Reprodução
Finalmente, o cartão
Durante o jogo, o atacante e ídolo do Flamengo foi capitão do time após a expulsão do meio campo Gérson, aos 41 minutos do primeiro tempo. A função permitiu, segundo a PF, maior interação entre o atleta e o juiz, o que pode justificar ele não ter levado o cartão por reclamação antes.
Até que, nos acréscimos, no campo de defesa do Flamengo, o juiz marcou falta de Bruno Henrique no atacante venezuelano Soteldo, do Santos, e o advertiu com o cartão amarelo.
Na súmula do jogo, o relato do juiz: "Golpear um adversário de maneira temerária na disputa da bola”.
Bruno Henrique continuou reclamando após o cartão, e acabou expulso por Rafael Klein.
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Nos acréscimos do jogo, Bruno Henrique toma o cartão amarelo após falta em Soteldo, do Santos — Foto: Reprodução
Em nota, o Flamengo comentou o indiciamento.
"O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito"
Buscas em 2024
Em novembro de 2024, a PF cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça do Distrito Federal, nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG).
Na época das buscas, Bruno Henrique também preferiu não comentar o caso.
O indiciamento significa que a PF encontrou elementos suficientes para considerar que os citados cometeram crimes. O caso passa agora à análise do Ministério Público – que, se concordar com essa avaliação, pode denunciar os investigados à Justiça.
Em paralelo à investigação da Polícia Federal, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também investigou a conduta de Bruno Henrique. O caso foi arquivado em setembro de 2024.
O relatório do STJD é baseado em três pontos principais: 'Lance normal', 'lucro ínfimo' e 'prática corriqueira'.