Por Gabriela da Cunha, Valor Investe
Rio de Janeiro
O pix parcelado chega oficialmente, dentro das regras do Banco Central, a partir de setembro de 2025. Segundo o BC, com o pix parcelado será possível que o usuário do pix tome crédito podendo pagar parcelado. Quem estiver recebendo o pix terá acesso a todo o valor instantaneamente. No entanto, a novidade já é conhecida por parte dos usuários de pix, ou seja, população e os lojistas.
Desde 2022, algumas instituições financeiras vêm oferecendo modelos próprios de pix parcelado. Na CloudWalk, dona da marca InfinitePay, essa oferta de acesso ao crédito acontece desde 2024 e é disponibilizada para uma base de clientes formada por quatro milhões de pequenos negócios.
Fabricio Costa, diretor de serviços financeiros da CloudWalk, avalia que o lançamento oficial pelo Banco Central reforça a confiança dos brasileiros nesta nova modalidade.
"Disponibilizamos essa modalidade antes mesmo da regulamentação oficial por acreditar que é uma solução inovadora. Ela ainda nos ajuda a dialogar com mais de 50 milhões de consumidores que compram destes pequenos negócios. A decisão do BC valida nossa estratégia mostrando que estamos inovando no caminho certo ao combinar tecnologia, segurança digital e inclusão financeira”, diz.
O BC sempre deixou claro que nada impedia o mercado de testar seus modelos. Isso foi positivo, na avaliação de João Nascimento, sócio da área bancária e de fintech do CSMV Advogados.
"Quando o regulador entra antes da consolidação dos modelos de mercado, há sempre o risco de engessar inovações futuras ou limitar alternativas que poderiam surgir naturalmente. É um equilíbrio delicado entre proteger e permitir inovar. Ao mesmo tempo, desde que foi lançado, o pix vem ganhando funcionalidades que ampliam bastante seu alcance e utilidade para o dia a dia das pessoas. Essas novidades mostram que o pix está sendo estruturado para atender também casos de uso que, historicamente, eram território dos cartões, especialmente o crédito", observa.
Segundo o BC, a funcionalidade tem potencial para estimular o uso do pix no varejo para a compra de bens e serviços de valor mais elevado. Como o Valor Investe já mostrou, mesmo não sendo lançada oficialmente, a modalidade tem crescido entre entre MEIs e gigantes do e-commerce, ampliando crédito no varejo.
O BC ainda não adiantou mais detalhes sobre como serão os critérios para que o pix parcelado seja ofertado.
Atualmente, ainda não há uma regra única em relação a cobrança de juros e quantidade de parcelas. A disponibilidade depende também das políticas de cada instituição financeira. De modo geral, o cliente pode pagar parcelado pelo valor contratado, escolhendo em quantas vezes e em qual data quer quitar a conta. As parcelas são descontadas do saldo da conta bancária, com débito automático. Quem assume o risco de inadimplência é a instituição financeira que o oferta. Por consequência quem usa pode pagar juros em razão disso.
"O pix vira só a forma de transferência, mas na verdade o usuário está contratando um produto de empréstimo", observa Thiago do Amaral Santos, sócio do Barcellos Tucunduva Advogados (BTLaw).
Mesmo sem mais detalhes do BC, Alex Hoffmann, CEO e Cofundador da PagBrasil, acredita na boa recepção da nova modalidade.
Em sua avaliação, entre as inovações que acompanham o meio de pagamento instantâneo, o pix parcelado se destaca como uma iniciativa promissora, especialmente por refletir um dos comportamentos mais característicos do consumidor brasileiro: o pagamento em parcelas.
"Os consumidores buscam cada vez mais comodidade em suas jornadas de compra e, para os comerciantes, aprimorar a experiência de pagamento é essencial para se manter competitivo. A regulamentação é positiva para padronizar a usabilidade e aumentar a segurança. Certamente será mais um 'golpe' na indústria de cartões", sustenta o executivo à frente da empresa especializada em tecnologia de pagamentos digitais.
Para o advogado do BTLaw, um dos pontos positivos do produto sendo reconhecido pelo BC é a maior previsibilidade sobre os pagamentos.
"O Banco Central vai trazer uma fiscalização maior sobre esse pagamento parcelado. Com isso, os débitos, possivelmente, vão ser feitos dentro do arranjo pix [onde só um conjunto de instituições autorizadas pode operar] e as parcelas serão controladas diretamente pelo sistema pix. A fiscalização das taxas de juros também poderá ser feita mais de perto, com menos risco de cobrança de taxas abusivas. Isso traz mais segurança para o consumidor não contrair um empréstimo sem saber, como vemos acontecer com frequência", resume.
Hoffmann, da PagBrasil, acrescenta que inovações como essa, viabilizadas pela abordagem do open banking [ecossistema bancário aberto], impulsionam a inclusão financeira e fortalecem o comércio ao mesmo tempo que também representam uma oportunidade para as empresas de soluções de pagamento.
O estímulo para a área bancária e de fintech também é destacado por Nascimento, do CSMV Advogados.
"O anúncio do pix parcelado é mais um capítulo na evolução do sistema de pagamentos instantâneos no Brasil. O anúncio traz segurança jurídica para quem vai operar essa modalidade, evita a adoção de modelos que podem conflitar com regras já existentes e cria um ambiente mais estável para que a solução seja adotada em larga escala", explica.
Pix em garantia
O BC também informou que a modalidade pix em garantia será uma solução que permitirá que os recebíveis futuros depPix sejam usados como garantia em operações de crédito. "O objetivo é baratear o crédito ofertado para as empresas, principalmente para aquelas cujo uso do pix é mais relevante", explica a autarquia.
A solução é voltada para estabelecimentos comerciais e empresas – não trazendo nenhuma mudança na forma como as pessoas físicas utilizam o pix.
Ainda em desenvolvimento pelo BC, é esperado que o pix em garantia esteja disponível somente em 2026 "por ser uma infraestrutura mais complexa", diz o BC.